A sensação de ser ‘a única’

Recentemente, fui a uma renomada incorporadora para uma reunião de negócios. Logo no lobby do edifício reencontrei, por acaso, colegas de empresas nas quais já trabalhei. Pelo clima de início de ano e pelo longo tempo que não nos encontrávamos, a conversa subiu pelo elevador e continuou em outro andar.

O grupo de conhecidos foi aumentando e o papo estava ótimo, recordando bons momentos juntos no imobiliário.

Depois de alguns minutos, a recepcionista do andar precisou ausentar-se do balcão. Foi neste instante que me dei conta: além dela, eu era a única mulher do espaço – a única a aguardar a reunião.

Note: o lobby do andar estava cheio e não havia lugar para sentar. Mesmo assim, eu era a única mulher entre quase 15 (quinze!) homens.

Claro que esta não foi a primeira vez que me vi em uma situação semelhante. Aliás, de acordo com a pesquisa “Women in Workplace 2018”, da Mckinsey, estou longe de ser “a única”.

Não estou sozinha

Ser “a única” ainda é uma experiência comum para milhões de mulheres no mercado. Uma em cada cinco mulheres diz que, por várias vezes, está só no ambiente de trabalho: em outras palavras, está isolada. Isso é duas vezes mais comum para mulheres em nível sênior e em funções técnicas: 40%.

Ainda segundo a pesquisa, mulheres únicas têm uma experiência significativamente pior do que aquelas que atuam em grupo, diz a Mckinsey:

“As ‘únicas’ têm mais de 80% de chances de receber micro agressões, em comparação com 64% das mulheres como um todo. Elas ainda estão mais propensas a ter suas habilidades desafiadas, a serem submetidas a observações não profissionais e humilhantes, e sentirem que não podem falar sobre suas vidas pessoais no trabalho”.

Riscos

Outro dado alarmante apontado pela Mckinsey: esta sensação de ser “a única” é quase duas vezes mais propensas a serem assediadas sexualmente em algum momento de suas carreiras.

“A situação não é exclusiva às mulheres. O número de homens ‘únicos’, porém, é significativamente menor – apenas 7% dizem ser frequentemente os únicos ou um dos únicos homens na sala”, revela o levantamento.

Neste caso, em destaque na pesquisa os homens brancos são “os únicos” que têm uma experiência melhor do que qualquer outro grupo “único” – provavelmente porque estão amplamente representados em sua empresa e são um grupo de status elevado na sociedade.

Sororidade

Como conclusão deste levantamento, a pesquisa – lamentavelmente – apontou que as mulheres que estão sozinhas têm 1,5 vez mais probabilidade de pensar em deixar o emprego.

Isso porque estar só no ambiente corporativo afeta a forma como elas encaram as promoções, oportunidades e o julgamento de ideias, deixando, cada vez mais, de acreditar na meritocracia.

“Sororidade” é a palavra que representa a união e a aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo, e que busca de objetivos em comum.

Cada vez mais, vemos grupos de movimentos femininos segmentados, voltados para áreas de mercado.

Se você conhece algum grupo voltado para mulheres, comente aqui! Marque nos comentários deste artigo. Farei uma lista com os que mais aparecerem pra mim.

Vamos, juntas, olhar para os movimentos que surgem para acolher “as únicas”.

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Elisa Tawil

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Elisa Rosenthal é diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. Colunista no Estadão e Exame. LinkedIn Top Voices. Autora de “Proprietárias” e “Degrau Quebrado”. Vencedora do prêmio Conecta Imobi 22 e 23 - Voz Feminina e ESG. Eleita a mulher mais influente do mercado imobiliário de 2023 pela Imobi Report.

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