Mulheres do Imobiliário. Por elas, para elas

Em janeiro de 2017, quando pedi demissão da Tishman Speyer, uma multinacional do setor imobiliário, abri mão de um cargo sênior, um pacote de benefícios invejável e uma trajetória corporativa clássica para dar um salto no desconhecido mundo do empreendedorismo.

Mulher, mãe de dois filhos, 15 anos de experiência no setor imobiliário.  

Empreendedora.

Por que manter uma equipe de desenvolvimento, quando não há projetos a serem desenvolvidos? 

Naquele momento, esta iniciativa tinha um sentido óbvio para quem, como eu, tinha uma preocupação com o custo fixo de uma incorporadora. Na minha visão, contratar uma consultoria de desenvolvimento sob demanda era uma solução que, além de desonerar a viabilidade econômica, traria um diferencial competitivo pelo “olhar não viciado” oferecido por quem pode “respirar outros ares”.

Explorando a árida savana do safari empreendedor, comecei a receber meus primeiros nãos.

“Para que terceirizar o nosso core business?”, alguns me perguntaram. Outros provocavam: “Me traga um negócio que entrego o desenvolvimento na sua mão”.

A cada não, eu me questionava: “se o desenvolvimento imobiliário é o core business desta empresa, qual o verdadeiro diferencial que ela traz ao setor e ao consumidor?”

Será que o mercado está carente de novos negócios? Ou a prospecção da forma como está sendo feita é ineficiente?

E, a cada nova reunião, me sentia mais sozinha. 

Até que, certo dia, aguardando na sala de espera da Tegra,  uma das maiores incorporadoras do setor, me vi sendo a única mulher a aguardar por uma reunião de negócios. Contei. Estávamos em 15 pessoas. 

O sentimento de estar sozinha não era apenas um sentir, mas uma realidade.

Naquele dia, abri o computador e montei uma apresentação sobre as mulheres do mercado imobiliário. Coloquei ali, na folha em branco, quem eu conhecia, onde estavam, as empresas que representavam. Busquei dados, números, argumentos. Coloquei fotos, gráficos. Terminei a apresentação e fechei o computador. 

Para quem eu mostraria? Naquele momento, não conhecia quem pudesse se interessar pelo tema.

Quase seis meses depois, recebo uma mensagem pelo LinkedIn de uma gerente da MRV, a maior incorporadora do Brasil. Carioca, ela viria a São Paulo para um treinamento e pediu para tomarmos um café. Aceitei.

Após duas horas de conversa, perguntei se, após dez anos como gerente de incorporação, se ela se via como diretora naquela empresa. A resposta foi seca: “Não”. 

Falamos sobre nossas angústias, sobre a falta de representatividade, a falta de voz, de propósito, de pertencimento. 

Então, perguntei: “Eu tenho uma ideia meio maluca que, se você topar fazer comigo, penso que pode dar certo. O que acha de criarmos um movimento para as Mulheres do Imobiliário?”

Após o “sim” da Renata Botelho, coloquei minha condição: temos que começar por um grupo no telegram porque eu sei que seremos mais que 250 mulheres (o limite de pessoas que o WhatsApp permite por grupo).

Na mesma semana, uma amiga que conheci enquanto estávamos como gerente de negócios na Viver Incorporadora, a Lia Meger, escreveu de Curitiba perguntando sobre o meu podcast, o Vieses Femininos. Ao longo da conversa, contei para ela no movimento que estava iniciando com a Renata e perguntei se ela toparia fazer parte, reverberando a mensagem para a região Sul do Brasil. 

Em uma semana, éramos 50 e, em um mês, mais de 100. 

Realizamos encontros presenciais em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte. Criamos nosso site, nossa logomarca, nossos pilares (Networking, apoio e capacitação) e nosso manifesto:

Nosso objetivo é reconhecer o espaço que conquistamos até aqui, reforçando nosso papel e importância no setor, nos unindo em uma rede de apoio recíproca para propagar, apoiar e capacitar.

Somos o primeiro grupo feminino do setor imobiliário, preocupado com a equidade de gênero em toda a cadeia produtiva.

Nosso primeiro aniversário

No mês em que completamos um ano do começo deste movimento, somos mais de 540 mulheres reunidas no grupo que mantém o debate sobre o setor e acolhe as questões trazidas pelas profissionais que estão construindo um mercado imobiliário com mais equidade.

Uma característica que o movimento evidenciou desde o primeiro encontro,  em agosto de 2018 no Regus-Spaces da Vila Olímpia em São Paulo, é a qualidade do conteúdo oferecido pelas palestras, painéis online e pelo nosso site do Mulheres do Imobiliário.

Agora, para mostrar a potência do impacto da força feminina no setor, no mês em que completamos um ano, lançamos a pesquisa inédita e exclusiva elaborada pela Behup em parceria com o Mulheres do Imobiliário: “A busca pelo imóvel: uma questão de gênero?”

Esse é um marco fundamental do nosso movimento. É pela venda que mostramos a necessidade de representatividade feminina dentro das empresas e nas mesas de decisão. 

“Por elas, para elas”, afirmou o CEO da Victoria’s Secret Lingerie, John Mehas, durante a sessão de perguntas e respostas no dia anual do investidor de 2019, em Columbus, Ohio. “Precisamos ser liderados por ela e para ela.”

O que o mercado imobiliário possui em comum com a mundialmente conhecida marca de lingerie Victoria’s Secret? 

A nossa pesquisa deixa evidente que a mulher possui um fator importante e muitas vezes decisivo na escolha e compra do imóvel. 

Contudo, assim como a Victoria’s Secret, nosso setor está carente de representatividade feminina em cargos de alta liderança, c-levels e conselhos.

Por conta desta lacuna entre quem define e quem compra, a marca americana perdeu potenciais investidores, market share e o seu tradicional desfile com a “Angels”. 

No mundo pós-pandemia, nosso movimento confirma que vivemos o momento de realizar esta mudança dentro das empresas e falar a língua de quem representa 52% da população brasileira. 

Nós, Mulheres do Imobiliário, possuímos capacidade, networking e apoio para desenvolver, decidir, movimentar e aprimorar o setor imobiliário.

Acompanhe a transmissão ao vivo dos dados da pesquisa e os painéis de debate sobre o tema e tendências para o setor imobiliário na programação especial de comemoração do nosso primeiro ano.

Quando: 30 de julho, a partir das 9h.

Onde: ao vivo pelo site mulheresdoimobiliário.com.br

Quanto: evento gratuito

Elisa Tawil

Idealizadora e co-fundadora do movimento Mulheres do Imobiliário, LinkedIn Top Voices, colunista no blog Revista HSM (Empresas Shakti), idealizadora e host do podcast Vieses Femininos.
Consultora estratégica para o Real Estate e mentora de negócios.

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Elisa Rosenthal é diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. Colunista no Estadão e Exame. LinkedIn Top Voices. Autora de “Proprietárias” e “Degrau Quebrado”. Vencedora do prêmio Conecta Imobi 22 e 23 - Voz Feminina e ESG. Eleita a mulher mais influente do mercado imobiliário de 2023 pela Imobi Report.

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